Parte integrante do artigo: Globalização Regional, capítulo 1 de 4.
Como as empresas irão se comportar com o mercado em transformação, não somente por causas tecnológicas, mas por questões político-econômicas. Em 4 artigos, tentarei idealizar qual será a postura das grandes empresas frente a esse desafio. Neste primeiro artigo, tentaremos entender, quais as origens dessa situação e se estamos caminhando para uma desglobalização.
Por Wilson Ziolli
28 de agosto de 2018.
No fim dos anos 80, presenciamos fatos históricos, que culminaram no fim da guerra fria e na abertura dos países socialistas e comunistas. Tal processo abriu as portas para um novo movimento mundial, que posteriormente foi nomeado como “Globalização”.
A Globalização ditou as regras mundiais nas décadas subsequentes, seguindo até os dias atuais. Dessa forma, iniciou-se de forma discreta, distante dos nossos olhos, mas foi dominando as nossas rotinas. Essa presença tornou-se marcante no ambiente pessoal e profissional, além de atingir aspectos políticos, econômicos e sociais. As nossas vidas não eram mais orientadas somente pelo lugar que vivíamos, ou pela cidade que morávamos, mas, também, por outros estados, países, culturas, ou seja, pelo mundo. O mundo se uniu, não no sentido literal, mas na forma de pensar, nos desejos ou nas vontades. O meu desejo em ter um novo celular japonês é o mesmo de uma outra pessoa na Índia, ou na Rússia, ou na África do Sul. Assim como posso desejar um produto lançado nos Estados Unidos, na China ou na Alemanha praticamente de forma simultânea.
Todo esse advento, ou a possibilidade da realização desses desejos, foi potencializada pela facilidade em recebermos a informação. Hoje, consigo saber em tempo real o que aconteceu na Austrália, no Egito ou até mesmo em cidades pequenas. Há muita informação disponível de forma rápida e fácil. Toda a globalização foi favorecida, ou fortalecida, com a facilidade e velocidade da informação, graças a internet e sua popularização.
A medida que a internet foi ganhando escala, a globalização foi se fortalecendo. As empresas começaram atender diversos tipos de clientes, os projetos começaram a visar não somente um país, mas vários locais diferentes. Como consequência, as empresas buscam uma competitividade extrema, visando a redução de custos, ganhos de escalas e, claro, maximização dos lucros. Sendo assim, era inevitável a busca por oportunidades, fossem por locais mais competitivos para produzir, ou por facilidade logística, ou por outros ganhos de produtividade. Como efeito, os países se viram obrigados a se inserirem nesse ambiente competitivo, oferecendo benefícios ou criando ambientes favoráveis para a fomentação de negócios globais.
A evolução destes movimentos pode ser vista em muitos países, como por exemplo, a China que sem abandonar seu regime político, adaptou-se a globalização e impulsionou diversos outros países, sendo chamada, inclusive, de locomotiva do mercado mundial. Como é de conhecimento, tal potencial de crescimento foi baseado no grande volume de mão de obra barata disponível, além de outros incentivos dados pelo governo local, o que possibilitou grande crescimento econômico acima dos 2 dígitos por muitos anos. Cada um dos países buscou uma fonte de atratividade, uns com recursos básicos, como o Brasil, outros com ambiente favorável para inovação, como o Japão e a Coréia dentre outros.
Porém, como diz Newton, toda ação gera uma reação. A medida que temos vários países bem sucedidos nessa maré de prosperidade trazida pela globalização, temos países que não conseguiram surfar essa onda, ou até mesmo, foram prejudicados pela globalização.
A medida que países deixam de ser competitivos em uma corrida global, eles tendem a se retrair ou se fechar. Alguns o fazem de forma positiva, tentando se reestruturar e tornam-se mais fortes, para quando voltar, terem mais condições de enfrentar mercados mais competitivos. Outros países se fecham, de forma a bloquear a competição, restringindo as importações ou até mesmo fechando as fronteiras. Essas atitudes mais radicais, até o momento, não se mostraram eficazes, muito pelo contrário, mostram-se altamente prejudiciais a economia local, aumentando as diferenças sociais, disputas religiosas ou disputas políticas. Esse radicalismo apenas aumenta as discrepâncias, independente de quais sejam.
Nas ultimas décadas, de certa forma, esse cenário estava num relativoequilíbrio. Com oscilações, claro, mas em equilíbrio. Contudo, nos últimos anos, passamos a enfrentar uma grande crise mundial. Não temos uma China forte como antes, temos vários países em crises profundas, com guerras e conflitos se intensificando. Consequentemente, países com situação estável acabaram se abalando econômica ou politicamente, alterando cenários sólidos ate então, em situações inusitadas, como por exemplo, o Brexit ou as eleições nos Estados Unidos.
Olhando apenas o aspecto econômico e focando na estratégia das empresas sob esse novo cenário, vemos um grande momento de transição nas multinacionais, devido a instabilidade global. A geração global de negócio torna-se mais delicada, pois em um dia é possível realizar negócios com o Irã, ou com Cuba, mas no próximo mês não. As economias estão mornas, mas as empresas continuam vorazes por ganhos e resultados, uma vez que a pressão do mercado financeiro e de seus acionistas não cessam. Por outro lado, vemos clientes ansiosos por novidades, desejando e querendo novos produtos frequentemente, mas sem abrir mão dos custos acessíveis. Em suma, um ambiente mercadológico hostil, onde a qualidade prevalece e erros, ou enganos, não são tolerados. Um ambiente difícil para empresas, mas para as pessoas também.
Como serão os próximos anos? Há uma sensação de que a globalização tão festejada entre as décadas de 80 e 90 está chegando ao fim. Será que é possível uma desglobalização? Será que o ambiente global de negócios acabará? Obviamente, não há uma única resposta, mas diversos cenários e situações. Num ambiente instável, as empresas precisam estar preparadas para se adaptar independentemente da situação. Portanto, a ideia é entender o atual posicionamento global das empresas frente a essa situação e entender como estão atuando para enfrentar esse novo cenário.