Um tempo volátil, rápido, ágil, com muitas novas tecnologias sendo empregadas, alterando mercados, apresentando novas sistemáticas de comércio e, tudo isso, ainda é apenas o começo. Em compensação, as escolas, universidades e institutos de ensino ainda utilizam um modelo do século passado. Um paradoxo, que não poderá existir mais.
Por Wilson Ziolli
10 de setembro de 2019.
Um mundo volátil, cada vez mais dinâmico. Ansioso por inovação e por novidades. Na verdade, ansioso pelo futuro, que desejamos ou sonhamos. Falamos das tecnologias do futuro, do mundo do futuro, do profissional do futuro e, agora por último falamos do novo modelo de aprendizagem, que vem se apresentando. Neste artigo, continuaremos a falar de educação, porém não somos especialistas neste tema, por isso, vamos falar de uma outra maneira, com outro foco. Vamos tentar imaginar como deveria ser a educação para formar profissionais capazes de lidar com todas essas novidades, desde as tecnológicas, quanto comportamento, processual e de liderança, ou seja, fazer o processo inverso. Nos imaginar como corporação e como gostaríamos de receber os profissionais das universidades e demais instituições de ensino.
Antes de entrarmos no tema propriamente dito, vale a pena relembrar a nossa situação atual no mundo corporativo.
Vivemos o inicio de uma transformação profunda do mundo corporativo, baseada numa grande inovação tecnológica. Novas tecnologias entraram no mercado, mudando as empresas, os profissionais e as pessoas. Ainda estamos no início, pois há várias novas tecnologias ainda em teste que, em breve, estarão disponíveis. Todo esse movimento irá ganhar mais velocidade e as oportunidades se apresentarão para as empresas e pessoas, que souberem lidar com essas tecnologias e conseguirem implementá-las rapidamente. Isso criará um mundo volátil, onde várias novidades entrarão rapidamente, porém também serão rapidamente esquecidas, isto é, o famoso “Mundo VUCA” (Volátil, incerto, complexo e ambíguo, numa tradução livre). Consequentemente, os profissionais deverão ter uma qualificação mais moderna e mais adequada a essa nova realidade. Terão que acompanhar esse ritmo e, ao mesmo tempo, imprimir uma velocidade ainda maior de aprendizado, para que possam aproveitar as oportunidades, que irão aparecer. As atividades operacionais deverão ser realizadas por automações ou Ias e, portanto, ser criativo ou estar atualizado sobre as inovações, será um diferencial para o profissional.
Em contrapartida, a maioria das escolas ainda hoje utilizam um modelo de ensino originado no século 12, que foi aperfeiçoado com as escolas multitemáticas entre os séculos 19 e 20 e, desde então, vem se adaptando às necessidades do mercado. Esse modelo, provavelmente, não irá sobreviver aos novos tempos, uma vez que a velocidade de aprendizado será cada vez mais importante para a formação de um profissional. Além disso, ainda há uma grande distância entre as escolas e as empresas, o que, também, terá que ser mudado, pois, caso contrário, não teremos profissionais qualificados e atualizados para o mercado de trabalho. Provavelmente, poderemos chegar em um momento em que as empresas terão muitas vagas disponíveis para esse novo profissional, ao mesmo tempo que teremos uma grande gama de profissionais sem emprego, por não terem a qualificação requerida.
Sendo assim, as escolas deverão passar por uma forte transformação no modelo atual, que foi bem sucedido por séculos, mas tende a desaparecer. Já há algumas escolas tentando se adaptar a essa nova realidade e preocupadas com essa necessidade dos profissionais do futuro, mas ainda são uma pequena parcela. Porém, não podemos esquecer, que até hoje há milhões de pessoas que não foram sequer alfabetizadas em pleno século 21, ou seja, ainda estamos muito atrasados, se quisermos aproveitar as novas oportunidades. Em consequência, ainda temos um grande déficit de profissionais capacitados com as habilidades necessárias para a situação atual. Esse déficit gera deficiência na economia e na evolução das empresas. Em suma, ainda não temos um ciclo virtuoso, onde os profissionais consigam evoluir na mesma velocidade, que as novas tecnologias ou as novas oportunidades.
Atualmente, como comentamos no artigo anterior(1), os profissionais mais atualizados começaram a buscar sozinhos os novos conhecimentos, evidenciando que o aprendizado será continuo e não mais limitado a uma faculdade, ou mestrado, ou até mesmo um doutorado. Buscam conhecimento de várias novas formas, as vezes, errando e aprendendo, mudando até mesmo a cultura do “não podemos errar”, para a cultura “erro e aprendo com ele”. Os melhores profissionais já vêm se adaptando a esse novo modelo de aprendizagem e conseguem capturar as melhores oportunidades. Por um tempo, essa sistemática deverá suprir a necessidade do mercado de trabalho.
Em paralelo, as empresas vêm aumentando os investimentos na aprendizagem dos seus profissionais, mudando os seus processos, trazendo estes para a nova realidade, capacitando-os para atuarem com as novas tecnologias, ou mesclando as novas com as gerações mais antigas. Todos esses movimentos são ações, que visam reduzir o gapde profissionais para esse novo mercado de trabalho. Essa atuação das empresas sempre existiu, porém vivemos em uma época disruptiva, ou seja, esses investimentos não são suficientes. Eles terão que ser intensificados e deverão estar em linhas com as transformações propostas pelas empresas.
Olhando, dessa forma, percebemos que as escolas são o elo mais atrasado dessa cadeia e estão muito defasados com relação às necessidades atuais. Quando falamos em escolas, na verdade, seriam as instituições de ensino em geral, como colégios, faculdades, escolas especializadas e etc. As instituições de ensino terão, que passar por uma grande transformação, pois elas terão que formar profissionais com habilidades para serem mais empreendedores, formar uma nova geração de líderes, que saibam atuar nesse mundo tecnológico e sejam mais criativos, flexíveis, resilientes e mais colaborativos. Talvez, as matérias fundamentais terão, que abrir espaço para as matérias mais mercadológicas, ou tecnológicas, para que se aproximem da realidade do mercado de trabalho, caso contrário, o nível de interesse das pessoas pelo ensino cairá cada vez mais, por não ser mais útil para a empregabilidade deste profissional.
Apesar desse retrato não muito animador, hoje, já temos algumas instituições de ensino, que entenderam essa necessidade e estão se transformando, atualizando o seu modelo de ensino. Esses novos modelos já podem ser vistos em escolas internacionais presentes em diversos países, ou em algumas grandes universidades mundiais, que vem investindo em cursos curtos e focados em temas específicos e não mais em programas de pós-graduação, ou MBAs e etc. Recordando que já há empresas grandes, que, em seus processos seletivos, não pedem mais diplomas ou certificados de conclusão de curso e preferem focar na experiência e habilidades dos profissionais.
Estas instituições já vêm adotando um modelo diferente do usual, onde as provas foram abolidas, as classes são menores, os professores ensinam, mas também atuam como coaches ou mentores. Ao mesmo tempo, a tecnologia é utilizada para o aprendizado e para a motivação, tanto em ambientes competitivos, quanto em jogos para obtenção de notas. Todo esse ambiente prepara os alunos, desde cedo, para enfrentar as dificuldades da vida e do mundo corporativo, aprimorando seus pontos fortes e ajudando a lidar com as frustrações e pressões do dia a dia. Esse ambiente parece um pouco confuso, porém foi criado com base em uma série de metodologias corporativas, que foram trazidas para as instituições de ensino, aproximando a sala de aula ao mundo corporativo. Estes são ótimos exemplos e podem dar um norte ao sistema de ensino.
Vamos elucidar esses exemplos e tentar mostrar como seria isso.
Iniciando pelas provas. Ainda existirão matérias tradicionais, porém serão introduzidas novas matérias técnicas, como: automação e programação, além de matérias, que favorecerão o aprimoramento de habilidades, como: apresentação, meditação, entre outros. A avaliação não será mais por meio de provas, mas por projetos. Projetos? Como nas empresas? Sim, como nas empresas. A vantagem dos projetos é que são realizados em times e as avaliações serão feitas de acordo com o nível das entregas parcial e final. A atuação em projetos exige raciocínio lógico dos seus integrantes e conhecimento multimatérias para entregarem os resultados requeridos. Os professores agirão como coaches ou mentores, apoiando o time para as entregas. Dessa forma, os alunos se acostumarão com esse sistemática, que é extremamente similar ao modo de atuar de uma empresa jovem, como uma startup!
Além disso, a atuação por equipe favorece o aprendizado em cooperação, pois, caso contrário, não conseguirão entregar seus projetos, assim como, estimula a busca de conhecimento através da internet e da leitura de livros. A atuação dos professores como coaches favorece o amadurecimento e o aprimoramento das habilidades de cada um. Todos têm habilidades diferenciadas, alguns mais técnicos, outro mais emocionais e assim por diante. Nesta nova dinâmica, o diferencial será identificar esses pontos e trabalhar com eles. Dessa forma, um aluno não é melhor que o outro, mas diferente. Os pontos fortes serão trabalhados e fortalecidos. Similar ao que acontece numa empresa com os profissionais, mas de uma forma muito mais suave. Com isso, trazemos o aluno para uma realidade mais próxima do mercado de trabalho.
Outro ponto interessante é a utilização da gamefication nas instituições de ensino, como um agente motivador. Por exemplo, como não há mais provas, os momentos de pressão acontecem nas entregas dos projetos. Os projetos envolvem diversos temas e matérias e, dessa forma, você pode pontuar o rendimento do aluno, como se fosse uma meritocracia. Além disso, há outras maneiras de você obter mais pontos, uma delas, seria a leitura de um livro. Há uma lista de livros recomendados (que dependerá da idade e do rendimento do aluno). Caso o aluno leia, irá responder a um questionário com perguntas sobre o livro e, caso o complete, ganhará um bônus na nota por essa leitura. Dessa forma, a leitura é transformada em um jogo, deixando essa tarefa mais atrativa. Quanto mais ler, mais o aluno ganha.
Dessa forma, várias matérias são tratadas ao mesmo tempo, você pode ter matérias básicas e fundamentais, com matérias que tragam temas como: gestão, liderança, cooperação, aprendizado por erros e acertos... Esta maneira de ensino fomenta o empreendedorismo, a iniciativa e criatividade, pois acaba desenvolvendo o senso crítico, a lógica e o raciocínio, que são fundamentais pra o profissional e para a vida. É importante termos a noção, que não saberemos tudo, mas se soubermos onde e como buscar esse conhecimento, conseguiremos nos manter atualizados e a frente da necessidade do mercado.
Além de todos esses exemplos e pontos abordados, há outros pontos importantes que precisam ser desenvolvidos: as habilidade emocionais e o controle das emoções. Para isso, a prática de esportes é fundamental, assim como outras práticas, como meditação, ou yoga, além de metodologias especificas do tema. Há inúmeras possibilidades, mas além disso, desenvolver habilidades para se comunicar em público, como a realização de teatros, ou apresentações, ou gravar vídeos, ou podcasts são matérias ou temas importantes para o desenvolvimento do aluno.
Como comentamos anteriormente, estes exemplos foram tirados de algumas escolas e universidades, que já vem aplicando essas sistemáticas de forma bem sucedida. O objetivo é formar pessoas capazes de atuar nesse novo mundo, que vem surgindo, que seja num ramo mais técnico, ou mais emocional, numa área de exatas, biológicas, ou humanas. O desenvolvimento do senso crítico, o raciocínio lógico e atuação em equipes serão os grandes pilares do profissional daqui para frente. Independente do ramo de atuação ou profissão a escolher.
Dessa forma, já podemos dizer que já há um norte para as escolas, universidades e outras instituições de ensino. Esta questão ainda precisa de amadurecimento, mas seria muito bom para o mercado e para as pessoas, se esse novo modelo já pudesse ser adotado por todos. Não podemos dizer, que seja o melhor caminho ou o mais adequado sob o ponto de vista do profissional de educação, mas podemos dizer, que do ponto de vista das empresas, sendo elas grandes médias ou pequenas, são exemplos muito interessantes e muito próximos das necessidades do mercado. O que ajudaria as empresas a ganhar velocidade na implementação de novos recursos, conceitos e novas tecnologias e assim, aproveitar as oportunidades, que vem surgindo.
Referências:
(1) “A era da aprendizagem” – texto disponível no Blog TMC
Link: https://www.blogtmc.com