Parte integrante do artigo: Globalização Regional, capítulo 3 de 4.
Como adaptar a gestão das empresas a uma nova realidade, onde a regionalização se apresenta como oportunidade, porém sem perder as vantagens da globalização.
Por Wilson Ziolli
21 de novembro de 2018
A globalização deverá se transformar nos próximos anos, atingindo um novo patamar, até então pouco explorado. Provavelmente, teremos uma regionalização dentro da globalização. Mas como será possível? Não se trata de um paradoxo, uma vez que a globalização tende a fugir da localização do produtos ou serviços? Na verdade, o conceito de “localização global” ou “globalização regional” tende a unir os pontos mais positivos de ambos os conceitos, ou seja, uma evolução nas tratativas corporativas, no qual se busca aproveitar todo o potencial mercadológico disponível num local ou numa região, independente de questões políticas, religiosas ou sociais. Essa nova regionalização tende a utilizar com mais ênfase os produtos ou serviços locais, mas sem deixar para trás possíveis oportunidades oriundas da globalização.
Geralmente, o primeiro passo é dado pela utilização de produtos globais, caso sejam competitivos. Porém, não atingindo as expectativas, alternativas serão avaliadas, entre elas as locais. Para isso, será necessária uma maior autonomia para as empresas locais ou filiais.
O segundo passo, seria o diagnostico, isto é, o que o mercado consumidor procura ou, quais alternativas poderiam ser interessantes de modo a tornar viável a sua venda. Alguns exemplos, para elucidar o entendimento: Podemos pensar em um equipamento de grande porte e de alta tecnologia produzido na Inglaterra, sendo instalado no Brasil por brasileiros, ou tendo peças de reposição fabricadas localmente. Um outro exemplo para o mercado consumidor seria um cereal matinal amplamente conhecido no mundo, mas com ingredientes locais. Tais exemplos já são vistos no nosso dia a dia, porém ainda pouco explorados e, tanto servem para produtos, quanto para serviços.
O terceiro passo seria analisar as possibilidades internas de portfólio e adequar os produtos ao desejo do mercado. Com a possibilidade de utilizar materiais ou soluções locais integradas ou não ao produto internacional, tal possibilidade amplia o seu leque de opções, possibilitando assim uma escolha mais acertada ao mercado, tanto em termos de desejo, quanto em termos de custos, velocidade e operação. Dessa forma, o melhor produto poderá ser ofertado, aumentando, assim, o potencial de exploração do mercado.
Até o momento, ainda temos uma regionalização tímida. Pequenas modificações são feitas a fim de melhorar ou trazer uma alternativa para produtos globais. Contudo, ainda é baixo os número de produtos que são desenvolvidos localmente. O nível de investimento ainda é pequeno e isso acontece com muitos mercados, não somente com o Brasil. Neste momento de instabilidade, ainda há um risco elevado para grandes investimentos em economias não maduras, segundo o ponto de vista das empresas e, portanto, ainda aguardam um melhor momento para explorar essa nova possibilidade.
Mesmo não sendo o melhor momento, as empresas estão se preparando e começam a buscar alternativas para entender o mercado, que está latente. O ritmo é frenético para novas tecnologias, novas modas ou apenas para ter novos produtos. O desejo das pessoas pode ser o mesmo ao redor do mundo, mas pode ser específico também. Uma vez que cada região está em um estágio diferente de condição e maturidade.
O celular mais caro nos USA é viável para aquele mercado, porém é inviável para um país emergente, porém não posso deixar de oferta-lo nesses mercados, já que pode ser uma fonte de desejo, de despertar o interesse em compra-lo. A fabricação de modelos alternativos mais baratos pode ser interessante, um meio termo. Contudo será que é viável? Esse tipo de pergunta está cada vez mais sendo feita pelas empresas. Outro exemplo, um mesmo carro pode ser feito na Europa ou em um país africano? Se não, vale a pena projetar um novo carro para esse mercado? Preciso criar um projeto novo ou apenas algumas partes? Posso utilizar a estrutura e adaptar um modelo? Ou seja, a busca por alternativas, que misturem o local com o global são cada vez mais utilizadas, principalmente, em mercados emergentes.
Com esse tipo de postura e atitude, as empresas acabam conquistando novos mercados, pois acabam se adaptando aos desejos locais, sem deixar a visão global de lado. Além disso, a mão inversa também pode acontecer. Um produto de sucesso em países emergentes pode ser interessante para os Estados Unidos, ou o material utilizado, ou a matéria-prima empregada podem originar novos produtos na China. A relação acaba sendo benéfica não somente para a empresa, mas também para a localidade, ou o país. Aquele país, que se retraiu por não ter uma competitividade interessante num ambiente global, pode iniciar um processo de abertura comercial, pois há maior interesse em explorar a região em uma relação ganha-ganha diferente da anterior.
Dessa forma, cria-se uma nova relação de equilíbrio das economias do mundo. Novas oportunidades podem ser aproveitadas, assim como novos mercados, ou novos produtos. Não preciso, necessariamente, ter um produto que seja bom e viável para todos os países no mundo, mas sendo para alguns países, isso já seria o suficiente. Fazendo uma analogia, a globalização seria como um caule de uma árvore muito bem enraizada, forte. Já a nova regionalização, seria como os galhos dessa árvore com ramificações para todos os lados, possibilitando a criação de folhas, flores e frutos, abrindo assim a possibilidade de especificar o produto, transformá-lo em algo mais atraente, ou mais cobiçado.
Logicamente, que esse cenário não era viável até alguns anos atrás. A expansão da globalização teve como um dos pilares de sustentação a redução de custos., , customizar ou especificar era caro Não importava a origem, mas sim, como eu conseguiria minimizar os meus custos operacionais, processuais... os custos em geral. Por exemplo, se eu centralizar a fabricação de um item, tenho ganho de escala, compro matérias-primas mais baratas, centralizo os investimentos e, dessa forma, diluo os meus custos de produção. Porém, vários mercados se fecharam, pois não tinham como concorrer e não tinham como manter um ciclo de empregabilidade local sadio para o país, freando assim a viabilidade de vários itens e produtos.
As grandes corporações já entenderam que não basta fornecer produtos mundiais. Se elas quiserem aproveitar todo o potencial que esses mercados ainda possuem, elas precisam se adaptar, se flexibilizar para encontrar o melhor produto. Não se trata de um movimento fácil, pois há muitos interesses em jogo, como por exemplo, a transferência de tecnologia.
Vale a pena regionalizar um item, ou melhor, ensinar uma filial ou empresa local como se faz? Não estaria fomentando a criação de um concorrente local? Todos esses fatores devem ser avaliados, quando se toma uma decisão desse tipo. Hoje em dia, o controle de transferência de tecnologia é rígido em diversos países, ou seja, ele é controlado e pode afetar a comercialização global, que não seja foco naquele momento. Isto é, não é tão simples lidar com esse jogo de interesses.
Dessa forma, a nova regionalização não é algo trivial, ou simples de ser realizada. Exigirá um controle rigoroso, mas ao mesmo tempo permitirá um nível de customização ou de regionalização amplo e viável, maximizando os ganhos em mercados potenciais e alterando a relação entre empresas e países.