Parte integrante do artigo: Globalização Regional, capítulo 2 de 4.
O mercado global vivencia um momento de transição e a instabilidade gera dúvidas sobre como as empresas deverão se comportar perante essas novas dificuldades e, talvez, uma desglobalização.
Por Wilson Ziolli
14 de novembro de 2018
O ambiente global está instável, muitas vezes hostil. Sanções sendo derrubadas e implementadas em um espaço de tempo curto. Governos se desentendendo, outros se retirando de grandes acordos globais, economias em crise e algumas não enxergando a luz no fim do túnel. Ao mesmo tempo, que vemos uma evolução tecnológica frenética, favorecendo a igualdades entre países e classes, vemos países ainda sem soluções para doenças básicas, ou até mesmo milhares de pessoas morrendo por fome. Pelo lado ambiental, fortes movimentos em prol da utilização mais eficaz e racional de recursos, enquanto há países dando incentivos para a utilização de combustíveis fósseis. Fazendo uma analogia, a água está no fogo e começa a ferver.
Quando se pensa na água fervendo, pensamos em segurança e no sentimento: “pode queimar!”. Porém, podemos pensar em coisas positivas, como: graças a fervura podemos ter geração de energia (turbinas movidas a vapor), podemos ter um delicioso café, ou podemos ter uma série de benefícios e aproveitar esse momento.
Transferindo essa analogia para o campo socioeconômico, estamos vivendo um momento único, que poderá resultar em consequências negativas, mas podem ser positivas também. A aparente fragilidade da globalização sentida atualmente, pode resultar num novo salto, ou num novo momento de prosperidade, ou seja, a velha máxima: podemos aproveitar um problema e transformá-lo numa oportunidade. Logicamente, os interesses estão em jogo e, dificilmente, irão culminar em resultados positivos para todos. Por isso, devemos esperar novas posturas, atitudes e um novo realinhamento no âmbito corporativo.
Sinceramente, não acredito em uma “desglobalização”. Primeiramente, por entender que não seja possível. Por exemplo, os Estados Unidos conseguiriam ficar sem as roupas produzidas na Indonésia ou sem os componentes eletrônicos da China ou Coréia? A China teria condições ou mesmo interesse em ficar sem as matérias primas brasileiras? Acredito que não conseguiria e nem teria interesse na verdade. Provavelmente, estamos passando por um momento de conflitos, que resultarão num novo realinhamento de interesses e preços entre os países, gerando um novo equilíbrio econômico, que deverá ser atingido nos próximos meses ou anos.
A questão mais intrigante que permanece, no meu ponto de vista, seria como as economias emergentes, ou os países que não aproveitaram o primeiro momento, irão se comportar nesse novo rearranjo mundial. Há um potencial de crescimento econômico latente em diversos países, como os países africanos ou nosso vizinho, a Argentina, alem de outros países, como os países da antiga União Soviética. Logicamente, pra aproveitarem essa nova onda, se faz necessário um ambiente político favorável e propício para esse advento.
Considerando toda essa situação e os pontos apresentados, as grandes corporações buscam manter ou ampliar sua presença nas economias mais importantes, contudo, provavelmente, obterão crescimentos menores, já que se tratam de economias maduras e consolidadas. Dessa forma, mercados inexplorados em países emergentes entrarão novamente no foco. Exemplificando, a liberação de alguns embargos em Cuba e no Irã, já gerou grande interesse nas empresas em comercializar produtos para estas economias, sendo apresentado diversos investimentos a fim de consolidar e aproveitar esse potencial reprimido. São economias menores se comparadas com outros países, como a China, porém são mercados interessantes e não podem ser desprezados.
A instabilidade gera desconforto, porém mostra potencial e mostra como pode ser interessante esse novo rearranjo. É um processo lento, pois exige um “profissionalismo” político dos países, que dificilmente são alcançados por países emergentes ou ainda em desenvolvimento. De qualquer forma, fica cada vez mais claro, que as empresas não devem se envolver em posicionamentos políticos e sim, se envolver em aspectos econômicos dentro da legislação local que não interfiram nas normas globais de ética e de competitividade justa.
Dessa forma, as grandes corporações vem alterando sua conduta, ou melhor, vem alterando a sua abordagem junto a esses países. Até então, a principal estratégia era viabilizar produtos globais produzidos em outros países por meio de importações, ou por produção local, mas com um pequeno percentual de conteúdo local. Praticamente, montando produtos ou equipamentos porém não os fabricando de fato. Por todo período da globalização, esse modelo atendeu e trouxe grandes benefícios e grandes avanços para a economia local.
Contudo, percebeu-se, que este modelo, não explorava todo o potencial do mercado.
Isso fica claro, quando acompanhamos o movimento de algumas empresas de consumo na última década no Brasil. Primeiramente, começaram a testar soluções alternativas em mercados regionais, não somente uma tropicalização, mas a criação de produtos ou soluções próprias. Com esse movimento, pode-se observar resultados extremamente positivos, comprovando a existência de um mercado consumidor ainda inexplorado. Além de servirem como referência para outras regiões, que não necessariamente sejam do mesmo país.
Após anos de bons resultados com casos de sucesso no mercado consumidor, empresas de infraestrutura, bens duráveis e outros mercados começaram a também experimentar essa possibilidade e a confirmar que a sua aplicabilidade, ou seja, esta nova regionalização, vem sendo apresentada em um novo formato ou, melhor, a globalização vem se adaptando. Transformando-se em uma “Globalização Regional”.