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O profissional do futuro

Atualizado: 13 de ago. de 2021

As novas tecnologias trouxeram as novas gerações. As novas gerações trarão um novo mundo, com novos pensamentos e comportamentos. Novos pensamentos e comportamentos ditarão as regras do mercado e, portanto, das empresas. Ao mesmo tempo que todos estes pontos dirão, qual profissional as empresas irão procurar.


Por Wilson Ziolli

18 de abril de 2019.



Como deverá ser o profissional do futuro? Cada pessoa pode ter um palpite, pois a resposta ainda não está totalmente clara, porém várias “dicas” vêm sendo dadas no decorrer do últimos anos. Tentaremos neste artigo traduzir essas dicas, esses insights, a fim de caracterizar qual deverá ser o profissional do futuro, ou o que se espera dele. Buscaremos encontrar o profissional ideal, pois o mundo futuro se apresenta de forma complexa e a sua chegada não será repentina, mas sim acontecerá através de um longo período de transição. Dessa forma, provavelmente, poderemos encontrar diversos tipos de profissionais dos mais modernos, aos mais tradicionais. Por isso, vamos ao ideal, pois ele será a tendência para os próximos anos.


Nos últimos artigos, falamos muito sobre tecnologias, sobre a empregabilidade, sobre as novas empresas (Startups), que mudaram a concepção de mercado e, por último, sobre as gerações, seus pontos positivos e suas dificuldades. Todos assuntos irão culminar no profissional do futuro. Para entendermos melhor, qual será o perfil e as necessidades requeridas para este profissional, é necessário entendermos o cenário, no qual as empresas irão atuar e, consequentemente, os requisitos demandados para integrar as futuras equipes.

Olhando para daqui a 5 e 10 anos, quando iremos passar por uma nova revolução tecnológica, as empresas receberão uma grande oferta de tecnologias, que prometem, senão resolver, ao menos aumentar a eficiência sua operacional. Muitas posições de trabalho deverão ser extintas e outras deverão surgir, contudo, ainda é uma incógnita se esse balanço será equilibrado ou não. Porém, uma coisa é fato, cada vez mais, os profissionais de destaque serão desejados e disputados entre as empresas e posições operacionais deverão ter sua oferta reduzida. A tecnologia irá transformar as empresas, o mercado e a nossa condição de vida. Um mundo mais complexo e mais flexível deverá surgir, o conhecimento será fundamental para surfar nessa nova onda.


Em linhas gerais, podemos dizer que estaremos imersos numa sociedade líquida, ou modernidade líquida - termo criado pelo sociólogo Zygmunt Bauman. Sendo bem superficial, Bauman utiliza a expressão “líquido” como uma metáfora para definir a sociedade pós-moderna, ou seja, uma sociedade adaptável, fluida, mas incapaz de manter a mesma identidade por muito tempo. Onde tudo é mais volátil e individual. Queremos novidades, mas não mantemos o mesmo padrão por muito tempo. Quantas “modas” de comportamento já surgiram e sumiram? A febre das compras coletivas, jogos como “Pokémon”, que faziam as pessoas caminharem em busca de personagens nas ruas, paletas mexicanas e outros exemplos de negócios, que sugiram com muita força, mas de repente sumiram e nem nos demos conta. Independente de serem bem sucedidas ou não, há uma busca por novidades que, ao mesmo tempo, não são duradouras. Isso não se reflete apenas no mundo dos negócios, mas também na nossa vida pessoal. Os relacionamentos estão mais temporários, tanto com o cônjuge, quanto com a família, ou com os amigos. Temos poucos amigos para a vida e mais amigos do momento.

Todos esses laços, sendo eles pessoal, mercadológico ou corporativo, demonstra um direcionamento para um movimento mais frenético do aspecto profissional. Hoje em dia, você se imagina trabalhando numa empresa, fazendo as mesmas tarefas por 10 anos? Ou por 5 anos? Ou por 3 anos? Talvez, nem por 6 meses. Antes, a busca por crescimento na carreira era constante. Hoje, já não é bem assim. O cargo ou a posição podem ser um desejo, mas outras coisas, também, são como, por exemplo, a vida pessoal, o propósito do trabalho, ter uma rotina ou não e assim por diante. Queremos mais, mais rápido e mais frenético. A frequência de novidades é importante e mantem algo de suma importância hoje em dia, a motivação.

Dessa forma, voltando ao foco do cenário em que as empresas deverão estar inseridas, além da tecnologia e da busca por novidades e propósito, há outros fatores, que influenciam este cenário. Ainda teremos uma busca por custos mais baixos na operação e o lucro ainda será um fator fundamental para as empresas, contudo este estará acompanhado de uma visão de médio e longo prazo, ou seja, o negócio precisa ser sustentável em todas as concepções, isto é, tanto na financeira, quanto social e ambiental. Além disso, a conduta terá que ser, realmente, ética e transparente. Casos, como o da Volkswagen com relação ao escândalo dos motores a diesel, ou outros casos de corrupção, não serão mais tolerados. A expressão “walk the talk” (“Fazer o que fala”) terão que ser exercidas de forma real e sincera pelas empresas. Não bastará dizer que a corporação apoia causas contra a discriminação, tendo gestores que só queiram trabalhar com homens, por exemplo.

Com relação a demanda frenética do mercado, as empresas precisarão se adaptar a esse modelo. Lembrando que as gerações mais recentes não possuem uma grande tolerância para ambientes com alto nível de estresse e nem longas jornadas de trabalho. Além do que a inovação e diferenciação não acontecerão de forma frequente e sistemática, provavelmente, aparecerão naturalmente em situações adversas. O grande papel da empresa será criar um ambiente favorável para a criatividade e inovação, ou seja, um ambiente motivador, onde consiga equilibrar a pressão dos resultados com um ambiente acolhedor para os colaboradores. Acolhedor não quer dizer festivo, pois a responsabilidade de entrega se manterá. Contudo, a visão de curto prazo deverá ser trocada pela visão de médio e longo prazo, equilibrando melhor a pressão pelos resultados. Sendo assim, a atuação por projetos com equipes multidisciplinares ditarão o ritmo, aceitando até mesmo profissionais temporários para apoiar nessa empreitada. Não apenas consultores, como já acontece hoje, mas em posições superiores às atuais, como a contratação de um CEO temporário, por exemplo.

Parece um pouco utópico, mas há grandes gestores que acumularam experiências específicas ao longo da vida e esse conhecimento pode ser pertinente para a empresa naquele momento. Contudo, esses profissionais são caros e podem criar uma certa incompatibilidade com o momento que a empresa atravessa, portanto por que não pensar em um CEO part-time? Isso pode acontecer com diversas posições dentro de uma empresa, não somente com CEOs, mas com vários outros cargos. Isso já vem acontecendo e mostra ser uma tendência para os cargos mais altos. Dessa forma, a empresa terá que estar preparada para receber profissionais dentro desse escopo de trabalho. A empresa terá que se permitir ter uma gestão flexível e adaptativa, de acordo com os interesses de um determinado momento. Portanto, questões como mesa, horário e local de trabalho tendem a ser flexibilizadas cada vez mais. Além do home office, a utilização de coworkings deve ser potencializada. Os custos serão muito mais variáveis do que fixos, inclui-se nisso gastos com equipe (inclusive alta gestão) e estrutura (escritório e fábricas).

Outro ponto forte, que será afetado pela demanda frenética, será o conhecimento. Provavelmente, as escolas, faculdades e instituições não conseguirão acompanhar as inovações de forma prévia, antecipando as tendências de mercado. Portanto, o conhecimento deverá ser buscado a medida que surja a necessidade, o que gerará a necessidade de se criar um ambiente de tolerância aos erros.

Dentro do artigo “Y + Z = o desafio da gestão”, abordamos o desafio da gestão com relação ao comportamento das gerações atuais. A Geração Y foi responsável por quebrar esse paradigma do erro, justamente, porque trouxeram uma série de iniciativas baseadas em novos conceitos tecnológicos, que não podiam ser lidos em livros, ou cases de sucesso. Tiveram que aprender, tentando e errando. As gerações anteriores a Y, cresceram sob a política do “errar é sinônimo de incompetência”, ou seja, o errar é ruim. Cada vez mais, as empresas terão que adotar essa nova conduta, reconhecendo que o errar é evolução, o errar permite evoluir, aprender. Lógico, que o erro tem seu risco mitigado, para prevenir resultados desastrosos, mas ele deverá ser fomentado como cultura. O ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Act) voltará à moda com muita força, mas numa concepção mais moderna e dinâmica.

Resumindo o nosso cenário da empresa do futuro:

  • Alta bagagem tecnológica, propiciando uma operação, praticamente, autônoma e automatizada. Baixa quantidade de pessoas atuando;

  • Busca frenética por inovações;

  • Lucro sustentável, não somente o aspecto financeiro, mas o aspecto ambiental e social passam a ter o mesmo peso;

  • Além da transparência e ética, a cultura deverá, realmente, conter e disseminar o propósito da empresa de forma verdadeira;

  • Gestão atuante por projetos com equipes multidisciplinares;

  • Flexibilidade e adaptação. Não importa o local, o horário, ou se são profissionais da empresa ou temporários, o propósito norteará os profissionais;

  • O conhecimento deverá ser buscado de acordo com a necessidade;

  • A cultura da “tentativa e erro” deverá fazer parte da cultura da empresa;

  • A busca pelo equilíbrio entre metas, estresse e vida pessoal, deverá ser um norte.


Muitas dessas atitudes já podem ser vistas em várias empresas atualmente, porém, devido ao avanço da tecnologia, todas elas serão levadas a um nível ainda não visto, potencializadas ao máximo. A empresa terá que ser muito mais flexível e adaptável à nova realidade. O diferencial dos seus serviços e produtos será o grande mote dos seus resultados, a ponto que as demais operações poderão ser terceirizadas, ou automatizadas. A modernidade líquida fará parte da gestão e da operação das empresas, um mundo volátil pede ações mais rápidas, o que é bom hoje, deixa de ser amanhã, um mundo ambíguo. Algo novo, será muito difícil, pois estaremos num mercado complexo, a comunicação é rápida, a cópia é rápida, a inovação poderá se tornar escassa, ou seja, estamos falando de um mundo volátil, ambíguo e complexo, que nada mais são que os conceitos do “Mundo VUCA“.


O “Mundo VUCA” foi descrito inicialmente para teorias de liderança, VUCA vem de: “Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity”. Trata-se de mais um conceito, que visa entender, como os líderes deverão se preparar para o ambiente corporativo do futuro. Expandido esses conceitos, entendemos que o “Mundo VUCA,” assim como a “Modernidade Líquida”, aponta para um mundo com essas características: volátil, incerto, complexo e ambíguo. Portanto, os profissionais, além do mundo e das empresas, também, serão “VUCA”.


Tomando como base o cenário apresentado e todos esses conceitos sobre o futuro do mundo, podemos entender que o profissional do futuro precisará buscar uma série de habilidades diferentes, do que temos buscado até hoje. Trabalhar numa empresa por muito tempo, talvez, não seja mais motivador e interessante. Mas, trabalhar em diversas empresas ao mesmo tempo, pode ser muito mais dinâmico, produtivo e motivador! A flexibilidade de atuação será extremamente importante. O novo não deverá ser mais algo assustador, será um fator de motivação. Ser verdadeiramente flexível, ou seja, atuar em equipes diferentes, locais, horários, temas diferentes, podendo atuar de forma temporária ou permanente, ter equipe ou não. Chegando ao ponto de não ser mais necessário ter uma posição definida na empresa, como ser um “gerente”, ou ”coordenador”, ou um C-level qualquer. Pois em cada local ou projeto desempenhará uma função diferente, contribuindo de forma diferente.


Para isso, as habilidades de relacionamento terão muito destaque, como a empatia, atuar em colaboração, ser comprometido, responsável, sincero, transparente, sempre de forma a agregar ao time, em prol do propósito da empresa, ou do projeto, ou do time mesmo. Para que isso seja possível, os propósitos terão que estar alinhados, tanto da empresa, quantos dos profissionais que estarão atuando. O equilíbrio pessoal e profissional terá que ser encontrado por todos, para que se tenha um controle emocional positivo e, dessa forma, se consiga obter os melhores resultados e de forma produtiva.


O profissional não poderá ser passivo, esperar as decisões, esperar os cursos, que a empresa irá disponibilizar e etc. Ele terá que ser muito proativo, se antecipar as necessidades. Aprender antes, que precise. Neste ponto, a visão sistêmica ganhará importância, assim como a visão estratégica. Para isso, precisará conhecer o mercado, buscar informações a respeito, ficar antenado sobre inovações, conhecer outras empresas, cases de sucesso e demais fontes, que possam agregar conhecimento e a curiosidade por entender melhor sobre certos temas, que possam ser úteis para a profissão em determinado momento.


Além de todos esses pontos, não podemos esquecer dos impactos da tecnologia sobre o profissional. Pois, independente da área de atuação, todos terão que ter noção de TI, pelo menos, ter conhecimento, que possa dar base para discussões, implementações, encontrar oportunidades, que estas inovações podem nos trazer. Os aspectos tecnológicos deixaram de ser um tema de uma área da empresa e passaram a ser um tema comum a todos. Sem esse entendimento, nem que seja básico, não permitirá que o profissional consiga evoluir nas ações e nos resultados da empresa ou nas suas próprias metas. A aprendizagem em tecnologia será fundamental para a evolução na carreira de qualquer um, seja ela em marketing, vendas, compras, contabilidade ou financeira. Incluindo-se atividades de serviços, como direito, saúde e etc.

Tanto o aspecto tecnológico, como a atuação em equipes multidisciplinares, requerem do profissional, que ele tenha uma visão sistêmica da sua atuação. Ele precisará entender não somente de sua especialidade, mas também de todos os impactos, que possa causar. A visão do todo será fundamental para se obter resultados integrados e consolidados, essenciais para se atingir a alta performance. Não bastará ser um especialista, mas sim, ser um especialista e um generalista ao mesmo tempo. Lembre-se o mundo será mais complexo e, para isso, teremos que buscar o aprendizado. Sermos auto suficientes em busca do conhecimento. Alguns estarão nas escolas ou faculdades, outros no YouTube, outros no networking e assim por diante. Teremos que saber aonde buscar, como aprender, como nos organizarmos para termos esse tempo.

Dessa forma, o profissional do futuro precisará buscar as seguintes habilidades:

  • Ser interessado, curioso, buscar o aprendizado, que seja relevante. Se antecipar na aprendizagem e não ser passivo;

  • Buscar algo a mais, do que retorno financeiro, ter um propósito (pode ser momentâneo), posição/cargo perde a importância;

  • Ser transparente, genuíno e responsável;

  • Ter racionalidade, bom senso – ninguém sabe tudo - e humildade;

  • Ter amplo conhecimento, visão do todo, integrado;

  • Conhecer e saber atuar com tecnologias, principalmente, as inovadoras;

  • Ser flexível e adaptável. A mudança deverá ser um elemento de motivação;

  • Saber atuar em grupo, ser colaborativo, comunicativo. Saber trabalhar em diversos ambientes, mantendo o foco e o comprometimento, ter pensamento crítico produtivo;

  • Saber equilibrar suas emoções, ou seja, ter controle emocional e ter a vida pessoal sadia.

Todos esses pontos serão fundamentais para o profissional buscar uma diferenciação e, assim ter empregabilidade em um mercado, que será tecnológico, volátil, flexível e complexo. Muitas posições serão fechadas e os melhores sempre terão oportunidades. Contudo, ser um talento num ambiente complexo será mais difícil e, provavelmente, para poucos. Saber se reinventar, reaprender uma profissão, ou uma especialidade, será essencial para esse mercado, que deverá se apresentar.

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