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O que as “Startups” nos ensinaram

Atualizado: 13 de ago. de 2021

Na última década, uma série de empresas, chamadas de Startups, apareceram e revolucionaram o mercado, fazendo as grandes empresas repensarem seu modelo de negócio. Nesse artigo, iremos abordar quais os impactos e como estas empresas estão fazendo para se adaptar a essa nova realidade.


Por Wilson Ziolli

6 de março de 2019.



O termo Startup vem sendo utilizado, mais na última década, para nomear pequenas empresas criadas com uma base tecnológica forte e com atuação disruptiva de mercado, principalmente, consumidor. Um exemplo clássico, seria o Uber, que com processos simples e apostando no compartilhamento de automóveis, mudou radicalmente o mercado de taxis no mundo. No Brasil, além deste, há vários exemplos, como a Yellow, Rappi, iFood, entre outros.


Geralmente, são empresas enxutas, ágeis, flexíveis, com alto nível tecnologia embarcada, baixo custo e se utilizam muita criatividade. Alguns dirão, que elas criaram novos nichos de mercado, outros, que elas transformaram o mercado. Por exemplo, voltando ao Uber, o mercado de taxis já existia e era um mercado antigo e estável, porém com alto índice de reclamação, mal avaliado como prestação de serviço. A Uber presta, praticamente, o mesmo serviço, porém sem possuir um único carro, sem possuir licenças de operação e focada numa boa prestação de serviço, preços mais convidativos e na garantia, de que o cliente terá um bom custo-benefício, quanto ao serviço prestado, enquanto o prestador, o motorista, será credenciado de maneira rápida, tendo a possibilidade de definir as suas próprias metas e os horários de trabalho, podendo trabalhar no momento, que achar mais interessante.


Além destas características, as Startups tem um ambiente de trabalho descontraído, menos formalismo, horários flexíveis, fomentação da criatividade e emponderamento para todos os seus colaboradores. A estrutura é enxuta e dinâmica, sem grandes níveis hierárquicos e que favoreça a colaboração. Todos esses pontos são importantes, para que a empresa alcance o seu propósito, que é ser uma empresa inovadora, funcional e bem avaliada pelos seus clientes. Pois, no cenário atual, é, dessa forma, que uma empresa se diferencia no mercado, superando os demais concorrentes, pois a evolução tecnológica chega cada vez mais rápida e mais frenética. Estar um passo a frente, é primordial.


Agora, vamos pegar todas essas características e fazer um paralelo com grandes empresas, podendo ser multinacionais, empresas tradicionais e, até mesmo, empresas familiares. Tentem encaixar todas essas atribuições e alocar em uma dessas grandes empresas. Claramente, imaginamos a dificuldade, que estas teriam para se enquadrar neste novo modelo de negócio, onde a flexibilidade e agilidade são essenciais para se obter os resultados esperados. Obviamente, há diferentes graus de aderência, uma Apple vai ter uma dificuldade diferente de uma Ford, por exemplo. Contudo, para ambas há grandes dificuldades para se adaptarem e se manterem na vanguarda da inovação com rapidez e a flexibilidade necessária.


Em uma análise macro e superficial, essas grandes empresas, até mesmo por causa do seu tamanho e história, são tidas como lentas e pesadas, muitas vezes burocráticas, tornando as mudanças demoradas e custosas. Possuem estruturas organizacionais complexas, o que torna a decisão lenta com reações tardias. A margem e o caixa são os direcionadores do negócio, tornando a política de custos muito rígida. Imprimem uma velocidade de corte muito superior a velocidade de suas ações e decisões, o que gera redução de times e aumento de volume de trabalho para os colaboradores. A implementação de inovações não consegue acompanhar essa velocidade, gerando assim insatisfação, resultados ruins ou medianos, esgotamento, desmotivação, e outros aspectos negativos, principalmente, para os colaboradores. É um contra ponto para o momento atual do mercado e para as novas gerações, que irão suprir as vagas nestas empresas, pois a nova geração não tem como objetivo atuar em locais com esses regimes de trabalho e esse ambiente. As gerações atuais, cada vez mais, buscam qualidade de vida. Para eles, o emprego não é a coisa mais importante da vida, é apenas um viabilizador para curtir a vida.


Obviamente, que o tom empregado foi mais forte, que o momento atual, porém esse cenário já é perceptível e os indícios já foram notados pelas grandes empresas. Consequentemente, há uma busca frenética por modernização de processos, organização enxuta e por novas tecnologias, que tragam principalmente, mais dinamismo, agilidade e flexibilidade nas ações e na forma de atuar. Por isso, se não é possível copiar o modelo de uma Startup por completo, pode-se aprender e adaptar uma série de iniciativas.


Há algum tempo, já é notada a busca destas empresas pela modernização de seus processos, objetivando a simplificação e automação, reduzindo os níveis hierárquicos e mitigando o ambiente matricial de decisão, mudando os escritórios para ambientes mais abertos, liberando o home office, atuando parcialmente em coworkers e contratando pessoas com um perfil mais jovem e tecnológico. Todas essas ações demandam altos investimentos e tempo. Essa transformação não é fácil e nem rápida, porém vem sendo realizada. Além das ações já mencionadas, há uma importante cultura, que precisa ser modificada radicalmente, a cultura do medo ou a cultura do erro, como acharem mais interessante.


Se observamos, como já mencionado no artigo “Terei emprego no futuro?”, as gerações anteriores foram criadas sob uma cultura, onde errar não era bem visto. Errar é feio, torna-o incompetente, os melhores não erram! Quem gosta de errar? Mesmo que seja um pequeno erro sem grandes consequências, ainda assim, gostamos de errar? Ou arriscar algo diferente, dormir numa montanha, ou pilotar uma moto, ou desagradar a família do seu cônjuge. Há uma série de atitudes, que trazem o medo de errar. Felizmente, isso vem mudando. Ultimamente, errar tem sido bom, está trazendo uma série de coisas positivas.  Quem nos mostra isso? As Startups. Parece um pouco confuso, mas vamos tentar elucidar esse ponto.


Estamos em um momento de transformação dos mercados, devido a popularização da internet e das novas tecnologias, que vêm sendo utilizadas. A tendência para os próximos anos, é que as novas tecnologias sejam cada vez mais utilizadas, o ritmo de implementação destas seja mais rápido e o potencial de transformação dos mercados seja ainda mais forte e mais agressivo. Isto é, viveremos um ritmo frenético de transformação. Será difícil para as empresas acompanharem esse ritmo, assim como para nós, profissionais, aprendermos sobre todas as tecnologias entrantes e, principalmente, sobre os impactos e as oportunidades, que nos trarão. Dessa forma, grande parte do aprendizado será na sua aplicação, melhor dizendo, na tentativa e erro. Mitigando os impactos, claro, mas tentando. O erro passa a não ser mais mal visto, mas sim, uma parte vital de uma curva de aprendizado. Quanto mais errar, mais irá aprender e maior a possibilidade de acerto e de sucesso.


As Startups já vêm utilizando dessa cultura, porém mitigando as falhas e, consequentemente, os custos. Trata-se de um modelo, que as grandes empresas começaram a adotar também. Não somente a mudança de comportamento, ou de mindset é importante, mas utilizar ferramentas e metodologias, que facilitem este processo, aumenta o nível dos entregáveis e a mitigação de riscos. Uma importante ferramenta para implementação de novos produtos ou inovações é a utilização da abordagem por projeto (o que não é novo), porém com um número maior de entregáveis em um tempo mais curto. Dessa forma, o projeto ganha velocidade e, cada etapa completada, diminui o risco de erro no produto final e, assim, ganha-se velocidade para atingir a meta esperada, ou o produto final. Metodologias como Ágile e Scrum possuem exatamente esse objetivo, assim como, a utilização de times enxutos e multifuncionais. Exemplo: para implementação de um processo de automação em um processo de compras, você terá um time de implementação composto não somente por compradores e conhecedores do sistema, mas também representantes de diversas outras áreas, como colaboradores de áreas afetadas, colaboradores com experiência na implementação do software, e/ou colaboradores sem experiência. A ideia é ter pessoas, que conheçam o processo, possam tomar decisões, ao mesmo tempo, que possam ter a mente aberta para a aplicações de inovações, visando um melhor resultado. Por isso, torna-se importante ter ambientes arejados, abertos, propícios para discussão de ideias, trocas e para manter o foco, não no dia a dia das atividades, mas sim, na implementação do projeto.


Apenas neste exemplo, já podemos observar uma série de traços oriundos das Startups, como a criatividade, o emponderamento, a flexibilidade e a velocidade das ações e das decisões. A partir do momento, que você é envolvido num ambiente assim, o ambiente descontraído, a fuga da rotina, a troca de ideias e experiências, tornam um ambiente corporativo muito mais motivador para os colaboradores, atrativo para as novas gerações, pois todos podem contribuir diretamente com um projeto, ou uma inovação, ou um produto. Ao mesmo tempo, que você quebra com as hierarquias, aumenta a responsabilidade deles e não abre mão dos resultados.


Além destas metodologias, outra com bastante destaque é a Design Thinking. Contudo, essa visa simplificar processos, tornar mais enxuta e eficientes as operações, focando no que é realmente importante para a empresa e melhorando a abordagem para mitigação de riscos, ou medos, que possam ser encontrados, buscando burocracia ou filtros desnecessários para a operação. Por outro lado, a aplicação dessas ferramentas não será suficiente. Elas já vêm sendo utilizadas com frequência pelas empresas, mas mesmo assim, será difícil acompanhar o ritmo das transformações, que estão por vir.


Uma tendência, que está voltando com força, é horizontalização das empresas, mas em níveis ainda não vistos. Para quem não conhece, este termo é utilizado, quando a empresa foca nas suas atividades principais e deixa as secundárias para empresas especializadas, ou seja, terceiriza as atividades. A terceirização não é algo novo, já houve um forte movimento no passado, mas deixou de ser atrativo por um período e, agora, volta com força. O viés nesse momento não será apenas a redução do custo de operação, como sempre aconteceu, mas sim, o quão ágil e inovadora será a atuação, o quanto ela conseguirá acompanhar as novas tecnologias, por exemplo.


Segundo alguns especialistas em tendências, a terceirização deverá ultrapassar algumas fronteiras, como por exemplo, a dos ERPs. Os ERPs (Enterprise Resource Planning) são, simplesmente, o software de gerenciamento operacional e contábil de uma empresa. Praticamente, a alma de todas as empresas. Para quem já teve a experiência de implementar um ERP, ou atualizá-lo, sabe o quanto de recursos são necessários para terem estas tarefas realizadas. Não somente recursos financeiros e de colaboradores, mas o tempo de implementação e os transtornos causados são extremamente impactantes. As empresas terão esse tempo no futuro? Estarão dispostas a passar por esses transtornos? Provavelmente, não. Veremos as empresas detentoras de ERPs disponibilizando não somente o software, mas realizando as atualizações, as operações, independente do tipo de empresa. Trata-se de uma visão bem futurista, mas factível diante das novas tecnologias.


Sob o ponto de vista dos resultados, estes também devem receber um novo direcionamento. As políticas, que visam a margem e o caixa, não irão acabar, porém não serão mais os únicos direcionadores. Claro, que o custo operacional, será sempre um indicador importante, porém a inovação e a funcionalidade terão muito destaque. O propósito da empresa será analisado por todos e, consequentemente, as ações sustentáveis ganharão cada vez mais importância. Não por ser algo bonito e ético, mas por necessidade. Chegará um certo momento em que o planeta será mais importante que as pessoas. Não bastará ter atitudes sustentáveis superficiais, a sustentabilidade será um fator direcionador. Já vemos várias empresas sendo criadas com foco na sustentabilidade, como empresas alimentícias orgânicas ou veganas, compartilhamento de veículos elétricos não poluentes, confecções utilizando tecidos com PET reciclado, entre outras.


Há diversos fatores, que indicam essa tendência, por exemplo: a comunicação está mais direta e rápida, casos como o da Vale em Brumadinho, se espalham rapidamente e afetando a imagem da empresa. A escassez de recursos naturais, apesar do planeta ser extremamente rico e ainda ter diversos elementos não explorados, muitos deles já não são mais facilmente encontrados. A geração de resíduos ou lixo está aumentando rapidamente, afetando a flora e fauna de todo planeta. Quantas notícias sobre animais mortos com plásticos recebemos diariamente? Em algum momento, não há como precisar, esses problemas deverão ser revertidos, caso contrário, teremos a vida afetada radicalmente.


As novas empresas já estão sendo criadas com essa postura sustentável, muitas vezes por preocupação e com a intenção de buscar um melhor equilíbrio entre recursos e resíduos, ou por oportunidade de mercado, uma vez que produtos ecológicos possuem um valor agregado maior. De qualquer forma, esse tema já é pauta não somente destas empresas, mas cada vez mais, está na pauta dos governos e das pessoas. O mercado está em transformação, por causa das novas tecnologias, pela busca por mercados mais sustentáveis, mais compartilhados e, principalmente, na busca de uma qualidade de vida boa para todos.


Tal efeito, iniciou-se há poucos anos e tem sido intensificado pelas Startups. Várias iniciativas utilizadas por estas, trouxeram uma abordagem diferente, que vem influenciando as antigas, as grandes ou as tradicionais empresas. Quem sabe não nos trazem um equilíbrio diferente e um mundo melhor.

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