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Vulnerabilidade

A Olimpíada terminou e nos trouxe muitas histórias de sucesso, de fracasso, ou melhor, de aprendizado. Vamos, através dessas histórias, entender como a vulnerabilidade interfere na vida do profissional e como ela é importante na evolução da pessoa e da carreira.


Por Wilson Ziolli

24de agosto de 2021.


A vulnerabilidade esteve no foco dessa Olimpíada de diversas formas e maneiras. Foi um dos principais assuntos, ao mesmo tempo que acompanhávamos com entusiasmo os jogos, lutas, provas etc. Felicidade, tristeza, superação, emoção, tudo junto e misturado. Às vezes, muito aparente, outras nem tanto. Lembrando que estamos falando de atletas, os melhores do mundo, que na verdade, são profissionais de alta performance. Profissionais. Por isso, vamos utilizar essas histórias para exemplificar, como a vulnerabilidade afeta a todos e como ela pode ser uma oportunidade, para diferenciar um profissional, tornando-o de alta performance.


O tema deste artigo surgiu, claro, após a entrevista da Simone Biles, onde declarou que não tinha condições de participar das finais das provas de ginástica artística. Na verdade, foi um gatilho, pois a cada prova, uma nova situação acontecia e junto, uma nova história surgia. De diversas formas, a vulnerabilidade sempre estava presente agindo de forma positiva, ou não. A partir desse gatilho, começamos a enumerar os casos que poderiam servir como exemplos e, infelizmente, dada a quantidade de casos, não será possível utilizar todos neste artigo. Há muitos exemplos, há muitos casos interessantes. É impressionante como a Olimpíada gera uma quantidade enorme de histórias e, consequentemente, de aprendizado. Pois, cada história, cada fato, é um aprendizado, sem dúvida nenhuma.


Já que iniciamos com a Simone Biles, porque não mencionar Novak Djokovic. Franco favorito da medalha de ouro no tênis masculino individual e em duplas mistas. No individual, foi derrotado na semifinal, disputou o bronze e perdeu. Completamente irritado, quebrou sua raquete. Imagem que foi vista não somente pelos fãs do tênis, mas por todos aqueles que estavam acompanhando a Olimpíada. Apesar de já ter vencido 20 Grand Slams e ser o atual líder do ranking de tênis, mostrou-se vulnerável à pressão dos jogos. Conhecido por ser frio nas horas mais estressantes dos games, não conseguiu alcançar seu objetivo. Sem contar a questão de ter desistido da disputa, também, do bronze para duplas mistas, a princípio devido a uma contusão no ombro. Mas imagina a angústia da sua parceira de quadra, o quanto não deveria estar desejando o bronze e se viu privada da disputa!


Além da decepção do líder de um ranking, há vários casos de atletas brasileiros, que pediram desculpa por não terem se classificado melhor. Será que essa cobrança, o maior peso, era da torcida, ou será que era do próprio atleta? Será que o medo do fracasso se tornou tão forte, que os fez esquecer o quão heroico eles são, simplesmente por estarem numa Olímpiada? Lembrando que os jogos olímpicos são o auge dos atletas para quase todas as modalidades. Outro exemplo, mais preocupante da vulnerabilidade, o Altobeli Silva, logo após não conseguir se classificar nos 3.000 metros com obstáculos, comentou: “Será que vale a pena se dedicar tanto?”. Claro, foi um momento de frustração, com a cabeça quente. Talvez hoje não falasse isso e, sinceramente, é o que os torcedores brasileiros esperam dele, que ele não desista. Ele é um vitorioso, mas não conseguia enxergar isso naquele momento e mostrou sua frustração.


Mas não apenas de frustrações vive a vulnerabilidade. A vulnerabilidade pode alimentar a resiliência. Exemplos como a do Isaquias Queiroz, da canoagem, cuja história poderia ter gerado uma depressão profunda no atleta, superando sua vontade de ganhar o ouro. Assim como não ter conseguido o ouro na Olimpíada do Rio de Janeiro em 2016, ou até mesmo não ter obtido o bronze com sua dupla Jacky Godman em Tóquio. Mas não, ele superou todos os medos e focou no seu objetivo, ou no seu sonho, ou nos seus treinos e remou como nunca na canoagem individual. Algo parecido aconteceu com a Ana Marcela na maratona aquática. Ou com a Rebeca Andrade na ginástica artística pois, caso a Olimpíada de Tóquio tivesse, realmente, acontecido em 2020, ela não poderia participar, pois estava se recuperando de uma cirurgia. Ou, o que falar do Bruno Fratus? Resiliente, dedicado, conquistou o bronze nos 50m nado livre.


A vulnerabilidade não foi o suficiente para abatê-los. O medo de perder, fracassar poderia ser o início da sua derrota numa prova, como pode ser o combustível do seu sucesso ou de uma vitória. Mas há outras vulnerabilidades. Como o caso da Laurel Hubbard, a primeira atleta transgênero das Olimpíadas. Será que a maior preocupação era desempenhar na prova? Ou o caso da Oksana Chusovitina, que aos 46 anos se tornou a atleta da ginástica artística feminina mais velha a competir nas Olimpíadas. Será que ela só aproveitou o momento? Não se sentiu frágil em nenhum momento? E a alegria contagiante do Alisson dos Santos? Alegre por participar e ainda mais por ter conquistado o bronze nos 400m com barreiras, será que não teve vulnerabilidades? Ele que não gostava de se socializar devido as cicatrizes na cabeça e o atletismo mostrou que isso não deveria ser uma preocupação. A beleza da alegria que ele irradia é cativante. Fatalmente, você deve estar lembrando de vários outros exemplos, como da Sifan Hassan, que caiu na última volta da prova de 1.500m, se recuperou e venceu, ou da Tatjiana Schoenmaker, que bateu o recorde mundial dos 200m nado peito e, não acreditando no seu feito, foi festejada pela sua equipe e por outras nadadoras de outros países.


Há vários casos, pena não poder mencionar todos. Cada dia uma nova história surge, mesmo com o encerramento dos jogos. Algo extraordinário!


Mas, em suma, podemos listar inúmeros sentimentos que demonstram como a vulnerabilidade está presente. A vulnerabilidade de forma literal, é ser frágil, ferido ou ofendido. Todos nós temos fragilidades, ou estamos vulneráveis a diversos sentimentos. Talvez, o mais comum seja o medo. Mas não acredito que seja o único. A vulnerabilidade nos ajuda de várias formas, incluindo no aprendizado, na nossa evolução, em nos deixar mais fortes, mais aptos a vencer os nossos objetivos ou alcançar as nossas vitórias. Convido você a fazer um exercício: listar os sentimentos presentes nestes exemplos mencionados nos parágrafos anteriores. Vamos a alguns que listamos: Fracasso, estresse, resiliência, sucesso, amizade, respeito, medo, cansaço, motivação, frustração, vitimização, recuperação, determinação, entre tantos outros.


Como podemos perceber, há uma mescla de sentimentos tido como positivos e outros nem tanto. Contudo, todos eles passam pela cabeça dos atletas profissionais, dos amadores e de nós, profissionais em geral. No mesmo dia podemos experimentar todos esses sentimentos passando pela nossa cabeça, nos deixando vulneráveis em muitos momentos. Que seja, ela aparece quando temos que tomar uma decisão difícil no trabalho, ou até mesmo ao decidir passar em um sinal vermelho, gerando risco de acidente. A vulnerabilidade estará presente sempre. Principalmente, porque em nossas vidas teremos muito mais derrotas, ou fracassos, do que vitórias ou sucessos. Isso nos torna, perdedores? Claro que não, como disse a Laura Pigossi, atleta brasileira que conquistou uma medalha inédita no tênis para nós: “Se você aguenta tantas derrotas, vai chegar lá!”.


O que diferencia o profissional que foi vitorioso (veja que não disse “o ganhador de uma medalha”, pois alguns conquistaram a medalha de prata e não estavam felizes, ao mesmo tempo que alguns estavam muito felizes unicamente por participar dos jogos), do atleta frustrado é a sua expectativa de vitória. Fatalmente, a maioria deles terá mais derrotas do que vitórias nas suas vidas. Porém, uma série de fatores diferenciarão quem atingirá os objetivos e os que não irão.


Tanto os atletas profissionais quanto nós, tentamos nos preparar para os momentos mais difíceis, de uma forma ou de outra, desde crianças buscamos não errar, aprender como se faz tal atividade, ganhamos experiência para fazer o melhor no que nos propomos realizar. Porém erramos e algumas “derrotas” são mais doloridas que outras, que nos fazem perceber a falta de preparo em algum quesito. Com isso, voltamos ao caso da Simone Biles. De forma muito corajosa, ela veio a público dizer que não tinha condições psicológicas para participar das finais. Uma das melhores atletas da ginástica artística disse que não estava preparada para as finais! Os atletas profissionais de alta performance são expostos a um nível de estresse muito elevado e por muito tempo. Michael Phelps, por exemplo, o atleta com mais medalhas em Jogos Olímpicos da história, teve depressão profunda antes dos jogos de 2016 e depois, novamente, com a pandemia.


Estamos falando de atletas profissionais de alto rendimento, que são unanimidades e tidos como quase “super-heróis”. Mas olha o que o Phelps disse a respeito:


"Somos seres humanos. Ninguém é perfeito. Então, sim, não há problema em não estar bem. Não há problema em passar por altos e baixos, por montanhas-russas emocionais. Mas acho que o mais importante é que todos nós precisamos pedir ajuda às vezes quando passamos por esses momentos."


O próprio Phelps, como comentado, passou por uma depressão profunda, mas foi ao Rio de Janeiro e ganhou mais 5 medalhas de ouro e 1 de prata. Muitos podem dizer que ele é uma exceção, que tem uma predisposição para nadar, um dom etc. Mas isso é verdade apenas em parte. Vejamos outro comentário do próprio:


“Aquele menino, que aos 11 anos, nadava para liberar energia, se tornou um mito não apenas do esporte, mas da humanidade. O sucesso não veio, porém, de graça. Treinei 365 dias por ano para a Olimpíada. A maioria das pessoas não faz isso. Mas são essas coisas que nos fazem ter sucesso”.


Vocês imaginam o que é treinar 365 dias por ano, ou seja, sem 1 dia de descanso? Fora as restrições alimentares, entre outras coisas. As nossas vulnerabilidades podem ser oportunidades de aprendizado. Elas podem nos tornar melhores. A questão psicológica até então, era um tabu. Hoje, graças a coragem da Simone Biles, deve deixar de ser. A melhor analogia que ouvimos, é comparar as questões psicológicas com uma contusão muscular. Ou seja, se machuco a perna devo fazer um trabalho de recuperação: curo, fortaleço, faço uma fisioterapia, fortaleço, treino, fortaleço ainda mais e sigo em frente, busco evoluir. Parece um pouco pragmático, pois estamos falando de questões psicológicas, vulnerabilidades. Lembrando que não estamos falando de qualquer atleta, mas sim, de uma das melhores.


Não há como comparar questões psicológicas entre as pessoas, não é nossa intenção. Mas há vários casos de pessoas que tiveram uma série de problemas nas suas vidas, que provavelmente a maioria das pessoas não conseguiria superar. Casos, como o do Alisson, Isaquias ou da Rebeca são exemplos. Diversas dificuldades, não só financeiras, aconteceram na vida desses atletas e eles conseguiram superar. Superar pensamentos negativos, ou destrutivos. Superar uma depressão, ou outros problemas psicológicos precisam ser tratados, cuidados. Você pode treinar sua mente, torná-la mais forte e assim superar estes momentos. Assim como acontece quando há uma contusão. Porém, cada pessoa precisa de um cuidado diferenciado, especial.


Primeiro, deve-se curar, cuidar. Sarar, fortalecer, treinar. Sim, treinar a mente. Há diversas metodologias que podem ajudar a fortalecer sua mente. Continuar a treinar a mente para as piores e melhores situações, treinar a concentração, observação e assim, evoluir. Tornar sua mente uma fortaleza. Com o tempo, o que era uma vulnerabilidade pode se tornar um ponto forte seu, uma competência. Claro que isso não é fácil e, dependendo, exigirá o apoio de um profissional, ou de profissionais. Assim como uma perna lesionada que precisa de um médico, fisioterapeuta, um técnico, ou de outros profissionais, a mente também precisará de um conjunto de profissionais, ou de um conjunto de aprendizados, para que se torne mais forte para enfrentar os desafios.


Fortalecer o seu mindset é fundamental, para que você alcance os seus objetivos. O quanto precisará fortalecer, dependerá dos seus objetivos, ou do seu propósito. Quanto mais alto seu sonho, desejo, ou objetivo, mais forte você precisa se tornar, tanto física quando mentalmente. Nas próximas Olimpíadas, não tenho dúvidas que a Simone Biles venha mais forte. A não ser que ela entenda que já alcançou todos os objetivos como ginasta, o que também pode acontecer. Mas, usando o Michael Phelps como base, acreditamos que ela retornará ainda mais forte. Ter conseguido participar de uma final, ainda nesta edição, já demonstra quão forte ela é.


Podemos concluir, que o fortalecimento da nossa mente, das nossas emoções, é a chave para sermos bem-sucedidos? Diríamos que sim. Mas não totalmente. Sem dúvida nenhuma, o fortalecimento mental dos profissionais é uma competência de destaque em qualquer profissão, sendo atleta, administrador, médico, advogado, comerciante ou mesmo um vendedor de sorvetes. Todos nós teremos a possibilidade de conquistar algo a mais se tivermos um mindset forte, que ajude a alcançar os nossos objetivos e desejos. Porém, a própria Olimpíada de Tóquio nos mostrou uma outra possibilidade e com louvor.


Um dos grandes destaques nesta Olimpíada, foram as competições de skate. Interessantes, divertidas, competição com atletas muito jovens, como a Rayssa Leal, com apenas 13 anos, deu um show de manobras, alegria e leveza. Mas também teve Pedro Barros, com 26 anos de idade, que vibrou com a vitória do australiano Keegan Palmer (18 anos). Até mesmo a favoritíssima do skate park, a japonesa Misugu Okamoto, que não conseguiu dar uma volta completa, caindo na última manobra, perdendo assim a chance de medalha, mas que recebeu um belo abraço de todas as competidoras da final, enquanto ainda chorava por ter falhado. Logo depois, ela foi carregada nos ombros pelas demais, como se tivesse levado o ouro, inclusive pelas medalhistas.


Dentro desse relato sobre o skate, percebeu algo diferente? Não pareceu que eles participaram de uma competição diferente da tradicional? Onde estava o estresse? A pressão?


Boa parte da vulnerabilidade dos atletas vem dos medos de fracasso ou da falha. Alguns conseguem se fortalecer com isso, outros não. Mas todos, geralmente, participam dos Jogos Olímpicos sob um estresse muito grande. Mesmo que participar dos jogos seja a maior glória. Na hora, torna-se, talvez, a maior pressão da vida deles. Lembrando do caso do Djokovic e outros campeões mundiais que nunca conquistaram uma medalha olímpica. Uma forma de se “prevenir”, como já comentamos, é se fortalecer mentalmente, além do físico. Mas o skate nos apresentou uma outra forma. Eles provaram que é possível competir e se divertir. Se divertir entre amigos. Ganhar é um detalhe. O que importa é tentar, é conseguir manobrar e estar entre amigos. Entre pessoas que curtem o mesmo que você gosta e pensam de forma parecida. Ou seja, é possível competir e se divertir. Tornar a competição mais leve, mais prazerosa e não aquela pressão absurda pela vitória. O skate conquistou o país não somente, pelas vitórias, mas pela alegria, leveza, companheirismo, respeito, entre outros sentimentos, na maioria deles, positivos.


Alguns podem dizer que não é bem assim: Torcemos para as japonesas, ou os japoneses, caírem e tal. Claro, é natural, queremos ver o Brasil vitorioso. Mas, vocês perceberam que tanto os atletas quanto os comentaristas torciam para a finalização da manobra, independente da nacionalidade do atleta?


Por trás disso, desse sentimento que envolvia os atletas e comentaristas e, que fizeram a gente admirar o esporte, está a cultura. A cultura do skate prega essa possibilidade, de competir pela diversão e não pela obrigação. Todos ganham, todos perdem, todos estão juntos, tentam, participam e vencer passar a ser um detalhe. Mas há uma satisfação no companheirismo. Por isso esse modelo é tão difícil de ser replicado para os demais esportes. Pois exige uma mudança de cultura, mudança de mindset de todos os competidores e não apenas de um. Contudo, é possível replicar, mas não necessariamente fácil. Talvez, outras modalidades possam replicar esse modelo no médio prazo, mas não no curto prazo.


Trazendo a ideia para o nosso dia a dia, vamos lembrar o quanto é difícil mudar a cultura de uma empresa, por mais que seja uma pequena empresa. A mudança de cultura envolve muita disposição, tempo e paciência, para que possa ser implementada e absorvida por todos. O mesmo acontece com outras modalidades esportivas. São raras as modalidades em que haja esse companheirismo e respeito, onde ganhar é um desejo de todos, mas participar é mais importante. Outro esporte com características, mais ou menos parecidas é o rugby. Por mais que seja um esporte de contato, viril, é um esporte que o respeito ao adversário prevalece e poder competir é um valor superior a vitória e, assim como o skate, é uma cultura. Uma cultura de anos, que não se atinge em pouco tempo ou com poucos atletas.


Vejam como o tema da vulnerabilidade é rico e abre diversos caminhos. Você pode escolher o caminho, onde a vulnerabilidade é um problema, ou você pode entender que ela é uma oportunidade para você conquistar, melhorar e evoluir. Claro que isso não é fácil, nem simples ou rápido. Mas é possível, tanto ao se olhar de forma pessoal, individual, quanto de forma coletiva. Há caminhos! Você só precisa descobrir o seu caminho!


Nós do BlogTMC gostaríamos de fazer uma humilde homenagem a todos os atletas brasileiros e do mundo por participarem e representarem tão bem seus países, suas famílias e o espírito olímpico! Obrigado pelo show que tivemos nas últimas semanas!

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